Farol da Ponta da Piedade
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Farol da Piedade, fachada frontal
Foto de: Zambrano Gomes / Domínio Público
Farol da Ponta da Piedade em 1931/32.
A luz emitida pelos faróis pode ser de vários tipos: Fixa – uma luz contínua com intensidade e cor constante; de Ocultações – em que a duração da luz é maior que a duração da obscuridade; Isofásica – em que a duração da luz e da obscuridade são iguais; por Relâmpagos – em que a duração da luz é menor do que a duração da obscuridade; Cintilante – em que a duração da luz e da obscuridade são iguais, mas com relâmpagos muito rápidos (mais de 50 relâmpagos/minuto); Alternada – luz que apresenta alternadamente cores diferentes.
O alcance da luz dos faróis depende de vários fatores, tais como o aparelho ótico, a potência da lâmpada, a visibilidade meteorológica, a altura do farol e a localização do observador. O alcance do farol expressa-se em milhas náuticas (1 milha corresponde a 1852 metros), de três formas diferentes: Alcance geográfico – distância máxima a que a luz do farol pode ser vista, dada a curvatura da terra (depende da altitude do farol e da altitude do observador em relação ao nível do mar); Alcance luminoso – distância máxima a que a luz pode ser vista em função da potência da luz, do aparelho, da transparência atmosférica e da capacidade ótica do observador; Alcance nominal – alcance oficial do farol, aquele que vem indicado nas cartas náuticas, listas de faróis e outras publicações oficiais.
Os faróis funcionavam com combustível de diversos tipos, começando com óleo ou azeite (séc. I), passando pelos "candeeiros de Argand" (séc. XVIII) - estes candeeiros produziam uma luz branca com alcance de algumas milhas, depois introduziram-se os refletores côncavos e as lentes convergentes prismáticas que aumentaram o alcance luminoso; a parafina, o petróleo (c. 1890), depois o gás (1930), e finalmente a eletricidade (anos 50).
Em Portugal, as primeiras referências ao uso de fogueiras mantidas em pontos altaneiros pelas comunidades piscatórias, para referência dos navegantes, remontam ao início do século XVI. A primeira estrutura classificável como farol terá sido edificada por volta de 1528 na foz do Rio Douro, em S. Miguel-O-Anjo.
O serviço de farolagem passou a ser uma organização oficial em 1 de fevereiro de 1758, por alvará do Marquês de Pombal, tendo sido ordenada a construção de vários faróis, dos quais o primeiro foi o de Nossa Senhora da Luz, em 1761.
Os Faróis, estruturas implantadas em locais de panorâmicas privilegiadas, impõem-se na paisagem e são referências, pelas características construtivas ou pela sua história, que transcendem a função de auxílio ao tráfego marítimo, suscitando um interesse generalizado. É o caso do Farol da Ponta a Piedade, de que apresentamos um breve historial.
O Despacho de 30 de dezembro de 1911 da 1ª Repartição da Direção Geral dos Eclesiásticos, publicada no Diário do Governo nº 10, de 12 de janeiro de 1912, referia:
«Nos termos do artigo 90º do decreto com força de lei de 20 de Abril último, cedida com as suas dependências, ao Ministério da Marinha, a antiga e arruinada ermida de Nossa Senhora da Piedade, assente num ponto da rocha que tem a denominação de Ponta da Piedade, na costa do Algarve, subúrbios da cidade de Lagos, a fim de ali ser construído um farol de rotação, conforme a planta junta ao respectivo processo, ficando o mesmo Ministério obrigado a entregar à comissão central de execução da citada lei, nos termos e para os efeitos do artigo 104º e seu números, a quantia de 200$00 réis, em que tudo foi computado, a título de venda.»
Como bem se compreende, o processo não seria de todo pacífico, como documenta a ata da sessão da Junta da Paróquia da Freguesia de Santa Maria de Lagos de 19 de junho de 1910:
«... Era com bastante mágoa que consentia que se fosse demolir uma ermida edificada há tantos séculos, aonde o povo concorre, principalmente os marítimos, em romaria por devoção a Nossa Senhora da Piedade; mas como esta junta não pode ir de encontro às determinações e ordens superiores, por isso se sujeita à demolição da referida ermida, para n’esse local se construir o pharol em questão...»
No dia 15 de fevereiro de 1912 o contra-almirante Júlio Zeferino Schultz Xavier, como representante da Direção Geral de Marinha, tomava posse da ermida e dependências e, por escritura de 14 de março do mesmo ano aquela Direção compararia por duzentos e cinquenta mil réis um prédio rústico com uma casa térrea no sítio denominado Piedade, pertencente a Artur Batista Galvão e esposa, para construção do farol.
No dia 1 de julho de 1913 principiaria a funcionar o farol, que constava de uma torre de secção quadrada, em alvenaria, com cunhais de cantaria, tendo dos lados Leste e Oeste anexos de um piso, que constituíam as habitações dos faroleiros. A torre tinha 9 metros de altura e o aparelho iluminante era de 4ª ordem, de rotação, mostrando grupos de cinco clarões brancos de dez em dez segundos, calculando-se o seu alcance luminoso em aproximadamente 20 milhas, em estado médio de transparência atmosférica. Substituída temporariamente por uma luz de 6ª ordem, fixa, branca, em 2 de maio de 1923, acabaria por passar a luz de ocultações de 2,5 segundos intervaladas de períodos de luz fixa branca, de 4 segundos de duração, no dia 15 de dezembro do mesmo ano.
Tendo inicialmente um candeeiro a petróleo, como fonte luminosa, em maio de 1952 seria eletrificado, passando a ter um alcance de 15 milhas, posteriormente aumentado para 18 milhas. Em 1956 foi adquirido novo aparelho de incandescência elétrica com passagem automática a gás acetileno.
Atualmente funciona exclusivamente a eletricidade, estando automatizado. Com a característica luminosa de relâmpagos simples de cor branca e período de 7 segundos, tem um alcance de 20 milhas náuticas.
Fontes Consultadas:
- AGUIAR, J.Teixeira de; NASCIMENTO, José Carlos; SANTANDREU, Roberto - "Onde a Terra Acaba - História dos Faróis Portugueses" - Ed. Pandora, 2007
- MOREIRA, Jorge Manuel Dobrões – “Terra à Vista: - os primeiros faróis estatais no séc. XVIII” – Coimbra, 2009
- Direção de Faróis – “Farol da Ponta da Piedade”, Revista da Armada, Abr. 2005
- http://direccaofarois.marinha.pt/PT/historia1/Paginas/Historia.aspx [Consult. Abr. 2013]
Segundo Zambrano Gomes nasceu em Oliva de La Frontera (Badajoz) em 1883 ou 1884, filho de pais espanhóis, e faleceu em Moura em 19 de Janeiro de 1953. Teve atelier e estúdios em Lisboa, onde desenvolveu a sua actividade de Fotógrafo de Galeria mas fotografou profusamente a província, com destaque para Moura, Serpa, Barrancos e alguns municípios algarvios como foi o caso de Lagos. Sobre a nossa terra deixou-nos uma colecção de cerca de quatro dezenas de postais ilustrados, alguns deles bastante conhecidos e divulgados (como o das lavadeiras em S. João), impressos a partir de imagens registadas no início dos anos 30 (entre 1931 e 1932). Dessa colecção, versando sobre Lagos, publicamos alguns exemplares.
Agradecimentos ao investigador José Francisco Rodrigues Finha, da C.M. Moura, pelos dados partilhados acerca do Fotógrafo Zambrano Gomes.