Fortaleza da Luz
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Fortaleza e Vista Parcial da Luz
Foto de: Zambrano Gomes / Domínio Público
Fortaleza da Luz. 1931/32
«A fortaleza de Nossa Senhora da Luz, na Ponta da Calheta, é um dos mais importantes testemunhos de arquitectura militar seiscentista na costa algarvia, e um dos que melhor ilustra a preocupação do Portugal Restaurado em dotar a zona mais meridional do seu território continental de estruturas de defesa. É certo que muito antes de 1640 aqui existiu uma fortificação, de que, até ao momento, nenhum elemento foi encontrado. Também se desconhece a data de construção desse primitivo reduto: um castelo medieval, para alguns; uma fortaleza edificada em 1575, para outros (DGEMN on-line, 1991); ou uma torre circular, datada de 1624, ainda para um terceiro grupo de autores (COUTINHO, 1997, p.135). Estas duas últimas perspectivas podem ser encaradas em complementaridade, uma vez que situam a primeira fortificação da Ponta da Calheta no período filipino (ou muito próximo dele). Neste sentido, será lícito equacionar uma acção da monarquia espanhola, à semelhança do que aconteceu em numerosos locais da costa algarvia, que por essa altura foram fortificados, para fazer frente às grandes armadas dos países europeus do Norte que (quase invariavelmente) passavam pela costa portuguesa. A fortaleza que hoje podemos observar, contudo, nada tem de filipino. Ela é o produto do vastíssimo processo de militarização e de fortificação do país, na sequência da Restauração da Independência (1640) e das Guerras então protagonizadas pelos dois reinos peninsulares. Ao contrário da pequena torre de vigia, que se pensa aqui ter existido até essa altura, o projecto joanino promoveu a construção de uma fortaleza de raiz, de características muito particulares e em voga à altura. Com efeito, a opção pela planta poligonal, de quatro baluartes angulosos definindo um quadrilátero irregular que se aproxima da forma estrelada, é um modelo aplicado a numerosas outras fortificações, e é o resultado da aplicação de mecanismos conceptuais e eruditos, ensaiados em grandes complexos defensivos, a fortalezas secundárias. O facto de as obras se terem prolongado até, pelo menos, 1670, é um indicador da importância desta fortaleza e do cuidado com que foi edificada, ocupando uma área de cerca de 200 m2. Infelizmente, o estado em que hoje se apresenta a quem a visite não revela a grandeza do projecto seiscentista. Os panos de muralha, que inicialmente possuíam 5 metros de altura, foram parcialmente submergidos pelas areias da praia, e uma parte importante deles já desapareceu, restando apenas a secção voltada ao mar. Por outro lado, o interior do recinto foi ocupado por um edifício, de dois pisos e de arquitectura eclética (que conjuga a preocupação cenográfica das amplas fachadas, com um certo carácter fortificado, evocador do local onde se encontra implantado, pela existência de dois torreões nos extremos e de ameias a toda a volta do conjunto), onde funciona, presentemente, um restaurante. Décadas de construções e de remodelações no interior da fortaleza determinaram a supressão da organização dos espaços, que, por uma planta de 1821, incorporava dois grandes pavilhões (COUTINHO, coord., 2001, p.113). Outro tanto tempo de dinâmica construtiva nas imediações determinou a radical alteração da envolvência, com particular impacto para os próprios muros. A fortaleza, todavia, lá se encontra, testemunhando a preocupação das autoridades em defender a cidade de Lagos, nos tempos de corsários, piratas, armadas islâmicas e vizinhança pouco amistosa do lado espanhol.» PAF
Segundo Zambrano Gomes nasceu em Oliva de La Frontera (Badajoz) em 1883 ou 1884, filho de pais espanhóis, e faleceu em Moura em 19 de Janeiro de 1953. Teve atelier e estúdios em Lisboa, onde desenvolveu a sua actividade de Fotógrafo de Galeria mas fotografou profusamente a província, com destaque para Moura, Serpa, Barrancos e alguns municípios algarvios como foi o caso de Lagos. Sobre a nossa terra deixou-nos uma colecção de cerca de quatro dezenas de postais ilustrados, alguns deles bastante conhecidos e divulgados (como o das lavadeiras em S. João), impressos a partir de imagens registadas no início dos anos 30 (entre 1931 e 1932). Dessa colecção, versando sobre Lagos, publicamos alguns exemplares.
Agradecimentos ao investigador José Francisco Rodrigues Finha, da C.M. Moura, pelos dados partilhados acerca do Fotógrafo Zambrano Gomes.